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Qual atuação da Russia na África e a relação disso ao BRICS?

Renzo Souza Santos1


Nos últimos anos a Rússia tem dito uma grande atuação na África e isso não é por acaso. Com o advento do BRICS os Russos tem intensificado ainda mais suas atuações no continente africano. Mas, como isso tudo está acontecendo? Vamos para um panorama geral e daí podemos tirar algumas conclusões desse processo. Nesse texto vamos trabalhar com figuras proeminentes no Conselho da Federação Russa como o historiador Vladimir Shubin, e membros influentes da comunidade de especialistas russos, como o também historiador Alexei Vasiliev, orientador do presidente Vladimir Putin para promover o reengajamento das ideias de Primakov com a África.

Após sua posse como Presidente da Rússia em maio de 2000, parecia improvável que Vladimir Putin supervisionaria o retorno da Rússia ao status de grande potência na África. Cabe à nós lembrar ao leitor que o conceito de Política Externa da Federação Russa de junho de 2000 destacou o comprometimento da Rússia com a estabilidade no Norte da África, resolvendo conflitos regionais na África e cooperando com a Organização da Unidade Africana (OUA). Para o historiador russo Vladimir Shubin, que foi nomeado para o Conselho Consultivo do Comité de Relações Exteriores do Conselho da Federação em 2002, dizia que os diplomatas franceses que lamentaram o recuo da Rússia em relação a África na década de 1990, pois isso significava que a França teoria que lidar com as circunstâncias políticas da região e a forte influência dos Estados Unidos por lá.

Durante aquele ano, Putin recebeu delegações de grandes potências regionais, como Argélia, Egito, Etiópia e Nigéria; parceiros tradicionais, como Guiné e Líbia; e parceiros nascentes, como Gabão. Em abril de 2001, Putin declarou que a Rússia queria estabelecer relações amigáveis com todas as regiões do mundo e insistiu que a África não era menos importante do que outras regiões. Foi exatamente aqui que ele contrariou a visível pouca importância da África durante a era inicial de Yeltsin.

Uma das estratégias de Putin foi polir sua imagem na África por meio de ajuda humanitária e assistência ao desenvolvimento. Em 2015, a Rússia doou 218 caminhões Kamaz ao Progama Mundial de Alimentação ( PMA) que forneceu assistência vital à RCA, Sudão do Sul e RDC, e fortaleceu as frotas regionais de caminhões do PMA em Gana e Uganda. Os Russos também doaram US$ 5 milhões ao programa de ajuda africana da Organização Mundial da Saúde (OMS) e reviveu suas provisões de assistência ao desenvolvimento para a África, que foram cortadas após sua acentuada recessão econômica pós-sanções. Foi durante sua reunião de setembro de 2017 com o presidente da Guiné, Alpha Condé, que Vladimir Putinsaudou o perdão de US$ 20 bilhões da dívida dos africanos com Moscou, dívidas essas ainda da antiga União Soviética.

Em 2009, o Comitê Africano de Coordenação para Cooperação Econômica com Países Africanos (AfroCom) foi criado com a intenção de promover uma maior cooperação política e econômica por meio de um fórum empresarial internacional “projetado para criar um espaço para empresários e políticos russos e africanos se relacionarem”. Moscou sediou a primeira cúpula interparlamentar russo-africana em junho de 2009, anunciada pelo vice-presidente do AfroCom, Petr Fradkov, como o maior evento político de tal extensão na história das relações russo-africanas.

Para Vladimir Shubin, à medida que a Rússia se tornava mais confiante em seus objetivos de política externa, a Rússia e a África “precisam uma da outra” para garantir a segurança e a soberania de 60% dos recursos naturais do mundo, que estão na Rússia e na África combinadas. Para esse fim, as tarefas do departamento da Ásia e África do Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia incluem o desenvolvimento de relações bilaterais de acordo com as prioridades da Estratégia Econômica Estrangeira da Federação Russa até 2020. A seção África dessas prioridades, elaborada em 2008, vale a pena ser dita aqui nesse text, pois fornece uma visão geral importante dos objetivos estratégicos russos, ao mesmo tempo em que retém o leve ar de distanciamento da realidade que habitualmente acompanha as aspirações estratégicas russas, uma marca forte da gestão Putin.


O professor Vladimir Shubin. Articulista russo na África


A África, sendo uma região de rápido crescimento, representa um interesse estratégico para a economia russa, incluindo como fonte de recursos naturais, um mercado para projetos de investimento e um mercado para exportações de máquinas e produtos técnicos.

As prioridades da estratégia econômica externa na região são as seguintes:

• Construção de instalações de energia — usinas hidrelétricas no Rio Congo (Angola, Zâmbia, Namíbia e Guiné Equatorial) e usinas nucleares (África do Sul e Nigéria);

• Criação de uma usina nuclear flutuante e participação sul-africana no projeto internacional para construir um centro de enriquecimento nuclear na Rússia;

• Construção de ferrovias (Nigéria, Guiné e Angola);

• Criação de casas comerciais russas para a promoção e manutenção de produtos de engenharia russos (Nigéria e África do Sul).


Assim como nas regiões do Oriente Médio, uma tarefa urgente para a África é a participação de empresas russas na gestão e operacionalidade técnica de ativos industriais locais, incluindo aqueles criados com assistência técnica da antiga União Soviética (Irã, Turquia, Marrocos, Nigéria, Guiné e Angola).

Outro ponto a se destacar é comércio entre a Rússia e a África que dobrou desde 2015, para cerca de US$ 20 bilhões por ano em 2021, de acordo com o presidente do Banco Africano de Exportação e Importação, Benedict Oramah. A Rússia exportou US$ 14 bilhões em bens e serviços e importou cerca de US$ 5 bilhões em produtos africanos.

Matérias-primas estratégicas são de particular interesse. Por exemplo, a Rusal, uma empresa que escava bauxita, a fonte de alumínio, na Guiné, e o grupo nuclear Rosatom, extrai urânio na Namíbia. A Alrosa, a maior empresa de mineração de diamantes do mundo, estava tentando expandir as operações em Angola e no Zimbábue, de acordo com o Carnegie Endowment for International Peace.


Principal Palco de atuação da Rússia na África.,


Em termos práticos esses investimentos entre Rússia-países africanos cresceram 185% entre 2005 e 2015. Desde 2014, a Rússia já assinou 19 acordos com países africanos, para o treinamento e coordenação no combate ao terrorismo e à pirataria. Apesar das boas relações com os países da costa atlântica (Angola, Namíbia, Camarões e Nigéria) o interesse se concentra na região do Chifre da África em razão da saída para o Oceano Índico, uma área de interesse vital para a Rússia.

Por incrível que pareça, o mais interessante palco de operação da Rússia na africa atualmente não é ao leste, mas ao Oeste. Ela acontece na região do Sahel e visa a partir dali conectar toda essa região com golfo de Golfo da Guiné e o cinturão do Cobre. Vejamos, em uma abordagem estritamente geográfica só a região do Guiné abrange uma região desde Cabo Palmas, na fronteira Libéria-Costa do Marfim, até Cabo Lopez, no Gabão, banhando as costas da Libéria, Costa do Marfim, Gana, Benim, Togo, Nigéria, Camarões, Santo Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial e Gabão. Ademais, estamos falando da posição estratégica e relativamente segura enquanto rota de navegação internacional, além das suas jazidas de hidrocarbonetos, cerca 70% da produção petrolífera africana que colocam a região sob os olhares predatórios das potências ocidentais que buscam segurança energética para seus territórios, notadamente França e Estados Unidos, e que para isso passam a buscar licenças para explorar as reservas de petróleo, gás, o que proporcionava um confronto político internacional e uma nova disputa pelos mercados da África.

O fortalecimento do BRICS com os países africanos enquanto futuros membros.

Uma visão ambiciosa da África para o desenvolvimento de sua infraestrutura é eloquentemente articulada na Agenda 2063 da UA. A África aspira ter uma infraestrutura integrativa de classe mundial que cruze o continente até 2063. Essa infraestrutura – transporte, energia, água é prevista para dar suporte à integração e ao crescimento acelerados da África, à transformação tecnológica, ao comércio e ao desenvolvimento. Por isso que entregar a agenda de infraestrutura da África é uma tarefa imprescindível. Em 2018, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) estimou as necessidades de infraestrutura do continente em US$ 130 a US$ 170 bilhões por ano, com uma lacuna de financiamento na faixa de US$ 53 bilhões a US$ 93 bilhões anualmente (BAD 2018).

Por exemplo, apenas 34% dos africanos rurais vivem a menos de 2 km de uma estrada para todas as estações, em comparação com 65% em outras regiões em desenvolvimento. Além disso, apenas metade da rede rodoviária rural existente está em boas ou razoáveis condições (BAD 2021). A rede de rodovias transafricanas concebida no início da década de 1970 para ligar diferentes países no continente ainda está incompleta, com ligações ausentes constituindo mais de 20% da rede de 57.300 km. A rede ferroviária da África também é inadequada; estima-se que a reabilitação das antigas redes ferroviárias do continente custaria US$ 3 bilhões, Além disso, a maioria das ferrovias da África são linhas desconectadas que chegam ao interior a partir dos portos, uma das mais integrativas é Lobito.

A atuação do BRICS na região se confunde com:

• Suas prioridades estiverem alinhadas com as prioridades de infraestrutura regional da África e essas prioridades regionais também estiverem alinhadas com a agenda política nacional dos países do continente.

• Eles canalizam recursos adicionais (habilidades especializadas e financiamento) para projetos prioritários.

• Os interesses, agendas e entendimentos e interpretações das políticas sobre o desenvolvimento de infraestrutura da África pelos BRICS e países do continente convergem.

• Os pensamentos e intervenções de funcionários de instituições financeiras do BRICS, bem como de instituições em países do BRICS, como o Banco de Desenvolvimento da África Austral (DBSA), estão alinhados com as ideias e premissas formais dessas instituições e, em particular, convergem com os objetivos dos instrumentos de financiamento de projetos das instituições.

Outro aspecto muito interessante é o sistema de pagamentos alternativo ao Dólar. A cúpula do BRICS de 2015 na Rússia, os ministros dos estados do BRICS iniciaram consultas para um sistema de pagamento que seria uma alternativa ao sistema SWIFT . O objetivo declarado era inicialmente passar para liquidações em moedas nacionais. O Banco Central da Rússia destacou os principais benefícios como backup e redundância no caso de haver interrupções no sistema SWIFT. A própria China também lançou sua alternativa ao SWIFT: o Cross-Border Interbank Payment System , que permite que instituições financeiras em todo o mundo enviem e recebam informações sobre transações financeiras. A Índia também tem seu Sistema de Mensagens Financeiras Estruturadas (SFMS) alternativo , assim como o SPFS da Rússia. No futuro além de toda essa riqueza acumulada, o BRICS teria uma atmosfera monetária macroeconômica única, o que facilitaria ainda mais as transações e fortaleceria as moedas locais.


Mapa mostrando a distribuição de recursos da África.


O efeito das PMCs e o xeque-mate sobre o imperialismo Francês:

A França se faz presente na região desde o período colonial e desde os processos de independência tem buscado de diversas maneiras manter-se no continente, especialmente na África Ocidental, essa região é a chave para a segurança energética francesa. Eles costuraram o chamado Françafrique que coloca a França numa posição de protetora dos interesses políticos e econômicos, mas que na verdade que mascara a relação neocolonial com suas antigas colônias na África. Porém, a França não possui os recursos para arcar com uma hegemonia total. A solução encontrada foi intensificar suas relações e presença em alguns países considerados estratégicos e vitais para o interesse nacional, destaca-se as relações com Gabão ( família Bongo) Camarões e Congo (importantes produtores de petróleo e outros recursos naturais). Cabe notar que a presença francesa inviabilizou (através dos acordos de cooperação militar) que os países africanos desenvolvessem estruturas de segurança e defesa autônomos, essenciais para o combate às inseguranças que assolam o continente. Portanto, especificamente no Golfo da Guiné o governo francês por meio da chamada "Operação Corymbe", eles se mantém permanentemente na região desde 1990.

Por outro lado, a rivalidade franco-russa está explicitamente relacionada às ações da Rússia na África, como a desinformação contra as missões antiterrorismo francesas no Sahel e a intervenção militar na República Centro-Africana, e também ligada a desenvolvimentos em nível sistêmico. O apoio resoluto da França à Ucrânia, que foi partilhado pelos seus parceiros europeus, foi visto como uma provocação na Rússia que legitimaria uma resposta assimétrica. Para Igor Delanoe, o vice-chefe do Centro Analítico Franco-Russo de Moscou, a política da Rússia na esfera de influência da França na África "joga com as regras do jogo que a OTAN jogou no espaço pós-soviético durante a década de 1990 e o início da década de 2000". A ex-ministra das Relações Exteriores da Polônia, Anna Fotyga, observa que o Parlamento Europeu começou a coordenar uma estratégia multilateral contra a crescente influência do Grupo Wagner, que converteu uma rivalidade franco-russa em um confronto sistêmico Europa-Rússia o que tem se desdobrado na África também.

Mas, voltamos ao que nos interessa. Durante os primeiros dezoito meses do quarto mandato de Putin, a Rússia se estabeleceu como o principal parceiro de segurança da RCA ( República Centro-Africana) e converteu sua presença militar em influência diplomática e incursões lucrativas nas vastas reservas minerais da RCA. Em março de 2018, o presidente Touadéra nomeou o oficial aposentado do GRU Valery Zakharov como conselheiro de segurança nacional da RCA. A chegada de Zakharov resultou na expansão imediata da presença militar da Rússia na RCA. Além da transferência de nove parcelas de equipamento militar russo, a Rússia enviou 255 conselheiros civis para a RCA, juntamente com um número não revelado de instrutores militares. Essas implantações de PMC russas foram oficialmente encarregadas de reconstruir as forças armadas da RCA e, em outubro de 2018, um líder sênior membro das nações Unidas Russo Vasily Nebenzia elogiou o papel da Rússia no treinamento de 1.000 militares da RCA. No entanto, as responsabilidades das PMCs russas rapidamente se estenderam além de seu mandato de treinamento militar. Na cerimônia do estádio de futebol celebrando o segundo aniversário da ascensão de Touadéra ao poder, os PMCs do Grupo Wagner protegeram o presidente e ganharam acesso completo à sua agenda de reuniões. Os guarda-costas ruandeses da MINUSCA, que antes protegiam Touadéra, foram posteriormente realocados para estacionamentos e portas do Palácio Berengo.

Em 15 de janeiro do mesmo ano durante as eleições na região a Rússia retirou seus instrutores e três a quatro helicópteros de transporte da RCA, já que a vitória eleitoral de Touadéra foi garantida. Essa redução demonstrou o sucesso da intervenção militar conjunta Rússia-Ruanda na RCA, que reduziu o fogo amigo das forças armadas da RCA e aumentou a eficiência do ataque militar dos ex-rebeldes Seleka pelos militares da RCA. O retorno do Grupo Wagner ao seu papel de apoio à contrainsurgência foi aparente em 26 de janeiro do mesmo ano, quando as tropas da RCA com apoio russo mataram quarenta e quatro rebeldes fora de Bangui.

Embora esta guerra de informação franco-russa tenha se estendido a outros países africanos, como Argélia, Camarões, Líbia, Mali e Sudão, ela teve um impacto insignificante na opinião pública na RCA. As atividades da Rússia no terreno, que consistiam na propaganda pró-Touadéra de e na promoção da cultura russa por meio de apresentações de balé por exemplo podem ter tido um impacto maior em seu soft power do que os esforços nas mídias sociais.

Rússia também reforçou seu soft power no Mali usando o alcance local de seus meios de comunicação para se promover como um parceiro de contrainsurgência e criticar a política francesa forçandos a se retirarem da região. Um artigo da Agência Federal de Notícias afirmou que o presidente do Mali Goïta veria a Rússia como um parceiro prioritário com base no sucesso de seus esforços de contrainsurgência na RCA e destacou slogans carregados pelos manifestantes pró-golpe, como "França fora", "Putin ajuda" e "O povo malinês exige um tratado de defesa com a Rússia". Esses slogans foram pareados com simbolismo da Guerra Fria, como retratos símbolicos de Che Guevara, Stalin. Enquanto as manifestações do lado de fora da embaixada da Rússia em Bamako consistiam de apenas setenta a oitenta pessoas, os meios de comunicação russos sugeriram que havia uma onda de sentimentos pró-Rússia no Mali. Segundo Evgeny Korendyasov ex Embaixador da Rússia no Mali disse que os malianos ficaram furiosos com a decisão da França de "cortar o fornecimento de alimentos ao Mali", que incluía a substituição do açúcar de cana por açúcar de beterraba, e afirmou que as pesquisas mostraram que 2 milhões de malianos queriam o apoio russo contra o extremismo islâmico. Apesar dessas declarações ousadas, as autoridades russas reconheceram que o foco inicial do Mali seria em reparar suas relações com seus vizinhos da África Ocidental, mas acreditam que o Mali o escolheria em vez da França como parceiro.

A confiança da Rússia na força prospectiva de sua parceria no Mali facilitou seu muito discutido acordo de PMC do Grupo Wagner com Bamako em setembro de 2021. Um relatório de 13 de setembro revelou que até 1.000 PMCs do Grupo Wagner poderiam estar envolvidas, e que esses mercenários poderiam custar às autoridades malinesas US$ 10,8 milhões por mês. Essas PMCs do Grupo Wagner participaram de treinamento militar e proteção de altos funcionários malineses. Para Sergei Lavrov o Mali procurou "empresas privadas russas" para obter assistência, pois estava preocupado com a retirada da França da luta contra o terrorismo.

Em 6 de janeiro de 2022, o exército malinês confirmou que as PMCs do Grupo Wagner haviam chegado a Timbuktu, e os moradores testemunharam "homens russos uniformizados" dirigindo pela cidade. As PMCs do Grupo Wagner também se mudaram para o centro do Mali para combater os combatentes da Jama'at Nasr al-Islam wal Muslimim (JNIM) ligados à Al-Qaeda e as milícias comunitárias. A União Soviética investiu muito capital no projeto de ouro Kalana no sudoeste do Mali, mas a presença de Moscou nas minas de ouro do Mali diminuiu após 1991 e foi suplantada pela Nelson Gold Corporation, sediada em Londres, em 1997. O Grupo Wagner lutou para garantir lucros com minas de ouro devido a regulamentações governamentais mais rigorosas do que a RCA e sentimentos antirrussos de atores não estatais que controlam minas no norte do Mali, como a Coordination des Mouvements de L'Azwad. O professor de ciências políticas da Rússia Grigory Lukyanov observou que, até meados de fevereiro, a Rússia usou a "carta maliense" como moeda de troca nas negociações com a França sobre garantias de segurança. A junta maliense viu a Rússia como seu parceiro mais eficaz para a consolidação de sua liderança no país pois foi sancionada pela CEDEAO em janeiro por seu plano quinquenal para a transição democrática.

Em 16 de junho de 2023, o governo do Mali solicitou que as forças de paz da MINUSMA se retirassem do Mali sem demora. Em 30 de junho, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o pedido de remoção das forças de paz. Posteriormente, em resposta à alegada recusa do governo do Mali em implementar o acordo de Argel com os rebeldes tuaregues, os principais grupos que compõem a Coordenação dos Movimentos de Azawad (CMA) – o Movimento Nacional para a Libertação de Azawad , o Movimento Árabe de Azawad e o Alto Conselho para a Unidade de Azawad, retiraram-se das negociações de paz. Posteriormente, esses grupos fundiram-se num único grupo além do complo jihadista do famoso clérigo da região Iyad Ag Ghaly, líder de Al Murabitoun, apareceu em um vídeo declarando a criação de Jama'a Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin.


O líder sênior islâmico Iyad Ag Ghaly


Outro país de atuação é Burkina Faso. Apos seis anos de insurgência jihadista no Burkina Faso , um golpe de estado ocorreu em 23 de janeiro de 2022, com os militares depondo o presidente Roch Marc e o chefe militar Kaboré declarando que o parlamento, o governo e a constituição haviam sido dissolvidos. O golpe de estado foi liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba e ocorreu em resposta ao fracasso do governo em reprimir a insurgência islâmica, que deixou 2.000 mortos e entre 1,4 e 1,5 milhões de deslocados. A raiva também foi direcionada à França, que estava fornecendo apoio militar ao governo.

Em 30 de setembro de 2022, ocorreu um novo golpe de estado que viu o coronel Damiba ser deposto pelo capitão Ibrahim Traoré devido à incapacidade de Damiba de conter a insurgência jihadista. De acordo com Traoré, ele e outros oficiais tentaram fazer com que Damiba "se reorientasse" para a rebelião, mas acabaram optando por derrubá-lo, pois "suas ambições estavam se desviando do que pretendíamos fazer". Alguns suspeitaram que Traoré tivesse uma conexão com Wagner. Quando Traoré entrou em Ouagadougou , a capital do país, os apoiadores aplaudiram, alguns agitando bandeiras russas dando um indício claro dessa ligação.

Traoré começou a colaborar com o Grupo Wagner após o golpe, alistando os mercenários contra os rebeldes jihadistas. De acordo com o presidente do Gana, a junta governante atribuiu uma mina ao Grupo Wagner como forma de pagamento pela sua implantação na região. No final de Janeiro de 2023, a junta governante exigiu que a França retirasse as suas tropas, que somavam entre 200 e 400 membros das forças especiais, do Burkina Faso, depois de lutarem contra os jihadistas durante anos. A França concordou e concluiu a sua retirada até 19 de Fevereiro de 2023.


O capitão Ibrahim Traoré de Burkina Faso.


Por fim, cabe lembrar que todos esses países citados aí já solicitaram participação no BRICS, é possível que entrem no futuro próximo o que claramente irá fortalecer ainda mais a organização. Com advento de uma riqueza inimaginável, uma moeda e sistema de pagamentos próprios além de outras prerrogativas os países que aderirem ao BRICS podem ter um futuro melhor do que se possa imaginar, incluído aí os nossos irmãos de África.




1 Licenciado em História pela UCSAL


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VISENTINI, Paulo Fagundes. O Desafio do Oriente na Crise do Ocidente: Estudos Sobre a Conjuntura e Estrutura 1. ed. Porto Alegre: ISAPE, 2022. v. 1

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