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O Nacionalismo Indiano

Segundo a Cosmologia Hindu, a civilizações não são destruidas, ou desaparecem no vazio, lá, o  tempo é infinito com um universo cíclico, onde o universo atual foi precedido e será seguido por um número infinito de universos.  Por outro lado os diferentes estados da matéria são guiados pelo eterno kala (tempo), que repete eventos gerais que vão desde um momento até a vida útil do universo, que é criado e destruído ciclicamente, aqui entramos nos chamados  ciclos cósmicos na literatura sânscrita encontradas no Yuga Purana do século I aC), no Mahabharata do século III aC - século IV dC e no Manusmriti séculos II a III dC.  

Para eles, vivemos nos ciclos  chatur-yugas (época, também conhecida como maha-yuga ), aonde cada chatur-yuga dura 4,32 milhões de anos e é dividido em quatro yugas ou ( idades dármicas ), como Satya Yuga, o Treta Yuga, Dvapara Yuga  e o assim chamado Kali Yuga que dura cerca de (432.000 anos), é o periodo da conturbação e do declinio, da dor e do pecado. Dessa forma o Universo é um organismo vivo e cada civilização e efeito disso. 


Para entender, organizar e planejar cada civilização, os indianos e seus poderosos imperios como Chandragupta Maurya que liderava um império altamente organizado, azeitado por uma sofisticada máquina administrativa, havia desenvolvido toda uma arte politica. Muitos séculos antes do florentino Nicolau Maquiavel ter escrito O príncipe, a Índia produziu um detalhado estudo sobre Administração Pública, Economia Política e Estado: o Arthashastra, ou “a Ciência da Riqueza”. Riqueza, nesse caso, era o reino. Foi composto por Chanakya, apelidado de Kautilya, um brâmane e mestre do imperador. 

No Arthashastra  a ideia central é promover a prosperidade do Estado, do rei e o seu fortalecimento no poder. Isso dependeria das qualidades pessoais do governante e de seus ministros, da sua riqueza, da força de seu exército e da habilidade de sua diplomacia no cultivo de aliados. “O inimigo de meu inimigo é meu amigo”, dizia Chanakya. 


A figura de Kautilya.


A guerra contra o islã:


Não cabe aqui narrar toda história do islã na india, mas analisarmos os pontos de embate que os nacionalistas hindus mais veneram como elementos centrais na disputa ideologica contra a influencia islamica no continente indiano se da na  Índia durante os séculos XIV, XV e início do século XVI que foi dominada por este conflito e pela mudança de lealdade dos governantes nas linhas de frente da península.

A fundação da dinastia muçulmana Bahmani seguiu o modelo familiar de um governante que se rebelou e declarou a independência do sultanato.  Os planos de expansão de Bahman Shah no sul, até Madurai, foram frustrados pelo crescimento de duas novas regiões: Warangal, em Andhra, e Vijayanagar, no sul do Tungabhadra.

É justamente o reino hindu de Vijayanagar, o grande bastião contra a expansão dos Bahmanis ao sul da Índia. Os Bisnagas como eram conhecidos pelos Portugueses fizeram uma série de guerras entre os Bahmanis e Vijayanagar, que envolveram também os antigos reinos, que modificaram alianças com outro dos contendores de acordo com sua conveniência. O rei Bahmani estava mais envolvido nas suposições da península do que no sultanato. No ano 1336, o hindu Harihara foi coroado rei de Hastinavati (moderna Hampi).

O principal campo de batalha dessas duas potências foi Raichur Doab, uma cunha de terra entre a confluência dos rios Krishna e Tungabhadra, na Índia central. Fazendo recuar os muçulmanos, o rei  Bukka Raya I, de Vijayanagar, capturou a cidade fortificada de Mudkal, no Raichur Doab, e matou toda a guarnição. Segundo as crônicas, um homem escapou, para relatar a chacina a seu soberano, Muhammad Shah, sultão bahmani, na cidade de Kulbarga. 

Muhammad marchou para o sul, atravessando o rio Krishna, e jurou que não descansaria até trucidasse 100 mil hindus, como vingança. No primeiro embate, as forças hindus foram dizimadas, e fugiram em precipitado pânico para a segurança da fortaleza próxima de Adoni, abandonando o acampamento e os seguidores do acampamento para serem massacrados pelos bahmanis. O historiador muçulmano Firishtah alegou que o número de mortos do lado hindu ultrapassou os 500 mil de civis mortos no processo. 

O Poderoso reino de Vijayanagar 


Durante o século XVII, uma variegada conjunção de clãs habitantes das terras altas hindus, chamados de marathas, transformara-se em uma nação guerreira ao resistir à usurpação muçulmana. O chefe maratha, o grande Shivaji, tornou-se o lendário líder da resistência, um herói para gerações de hindus, e famoso por sua ousadas escapadas. Nada é mais importante que a figura de Chhatrapati Shivaji, que lutou bravamente durante toda uma geração após sua morte contra os poderosos Mughals. Os mesmos inimigos que trouxeram um exército para subjugar os Hindus do Império Maratha.

Chhatrapati Shivaji era um Rajput, um guerreiro, um Shatriya,  o seu brilhantismo durante as guerras contra os Mogois consistiam na chamada ciência dos fortes. Do ponto de vista operacional, os bastiões de paredes duplas dos fortes nas colinas de Rajgad são bastante majestosos. Rajgad “o rei dos fortes”, literalmente. Duas das longas esporas do famoso forte são cobertas por este mecanismo de defesa único. A muralha defensiva do forte possui mais uma camada de pedra, exigindo assim do exército invasor o dobro do tempo e esforço. O espaço entre as paredes é estreito, uma passagem que mal tem a largura de uma pessoa. 

Negócio era tão impressionante que se alguém quebrasse a primeira camada, os guardas no topo das muralhas poderiam atacá-lo facilmente. Uma defesa simples, mas engenhosa. A grande guerra Hindu-mulcumana começou durante uma negociação com um general muçulmano, Shivaji inesperadamente, eviscerou o general com garras de tigre, de aço, que trazia escondidas, e depois suas tropas avançaram dos esconderijos para massacrar o inimigo sem chefe. Mais tarde, ele se esgueirou para dentro de uma fortaleza misturado aos participantes de um séquito que acompanhava um casamento real. Lá dentro, matou os hóspedes em seu sono. 


Essa época é a época de Aurangzeb, imperioso, impiedoso Imperador Mogol, descendiam diretamente dos Timuridas do grande Tarmelao. Aurangzeb era um muçulmano ascético, que bania todo vício que podia, e pessoalmente evitava quase tudo o mais. Não usava seda. Onde podia, proibia a música. Diferentemente dos mughals anteriores, ele aderiu à proibição muçulmana de imagens, de modo que, sem o patrocínio da corte, os pintores tiveram de sair do país para encontrar trabalho. Não tendo interesse em escritos que não fossem os sagrados, Aurangzeb também tirou o patrocínio imperial de poetas e estudiosos. Proibiu os hindus de montar cavalos ou andar em liteiras. Introduziu no país o imposto por pessoa, que todos os não muçulmanos eram obrigados a pagar.

Aurangzeb destruiu incansavelmente os templos hindus por toda a Índia. Em 1661, demoliu o templo Kesava Deo, em Mathura, que assinalava o local de nascimento de Krishna. Outro templo foi o de  Kashi Vishwanath, na cidade sagrada de Varanasi, um dos mais famosos templos dedicados a Shiva, foi demolido em 1669. Mandou demolir o templo Somnath, em Saurashtra, em 1706, dentre outros. Assim que soube das ações de Shivaji,  Aurangzeb demitiu o general encarregado de caçar Shivaji e enviou seu próprio filho para o sul. Mas, isso em nada surtiu efeito, Shivaji estava sempre um passo à frente dos mughals e, em 1664, conquistou e saqueou a cidade de Surat.

Ainda que Aurangzeb tenha sistematicamente capturado os fortes marathas construídos em colinas, um após outro, novas fortificações continuavam a surgir, em outros lugares. Os fortes marathas geralmente se rendiam assim que Aurangzeb chegava, mas depois retomavam a revolta logo que o imperador se afastava a uma distância segura. Haviam se especializado na guerra de guerrilhas, de modo que Aurangzeb tentou erradicá-los destruindo as aldeias e colheitas que os sustentavam.

Conforme a guerra se arrastava, o sul da Índia foi ficando devastado. De acordo com alguns cronistas islâmicos e outras fontes contemporâneas, 100 mil soldados de Aurangzeb e 300 mil cabeças de animais de carga, isto é, cavalos, camelos, burros, bois e elefantes, morreram todo ano, durante o quarto de século que durou a guerra no Deccan.

Quando, entre 1702 e 1704, a seca, a peste e a fome atingiram as terras já assoladas pela guerra, certa de dois milhões de civis morreram em poucos anos. A longa guerra nunca conseguiu chegar a seu objetivo final. Ao final da vida de Aurangzeb, os mughals haviam chegado perto de conquistar todo o subcontinente da Índia, mas a ponta mais extrema da península ainda permanecia fora de seu controle. Os Resistentes Marathas aguentaram 27 anos de confronto direto contra os islâmicos, algo impressionante. 


Narendra Modi reverencia Chivaji.


O anti-colonialismo e a formação do nacionalismo:

Os processos da década de 1870 e início da década de 1880 trouxeram um novo dinamismo na consciência nacionalista emergente entre as classes médias com formação acadêmica da Índia. A centralização da política do estado colonial e da tecnologia de infra-estrutura deu possibilidades aos “conceitos emergentes arraigadas territorialmente de uma economia, cultura e identidade nacionais”.  Isto reflete-se na mudança da naturalidade das associações nas presidências, na organização de levantamentos pan-indianos, entre os quais a intenção de criar um "Fundo Nacional" para patrocinar estes movimentos, e no crescimento de associações políticas em cidades em geral do país. Daí temos a formação do Congresso Nacional Indiano,  formado numa convenção nacional que surgiu em Bombaim em dezembro de 1885. 

É nessa época que surge o então Partido do Congresso ou simplesmente Congresso ,  um partido político na Índia com raízes profundas na maioria das regiões mais populosas de lá.  Fundado em 28 de dezembro de 1885, foi o primeiro movimento nacionalista moderno a surgir no Império Britânico na Ásia e na África. A partir do final do século XIX, e especialmente depois de 1920, sob a liderança de Mahatma Gandhi , o Congresso tornou-se o principal líder do movimento de independência da Índia . O Congresso levou a Índia à independência do Reino Unido , e influenciou significativamente outros movimentos nacionalistas  anticoloniais no Império Britânico.  Mas, a formação do nacionalismo indiano é algo mais complexo e mais produndo, falaremos sobre as principais organizações e a formação em preâmbulo dos grupos em atuação nacional.

A primeria grande figura nacionalista da Índia é a organização Arya Samaj, fundada por Dayananda Saraswati (1824–83) em Bombaim em 1875 e Lahore em 1877, é algumas vezes descrita como o primeiro movimento moderno ‘fundamentalista’ a ter surgido do hinduísmo (sobre o Arya Samaj e Dayananda. No entanto, mais comumente, o Arya Samaj é visto como um exemplo de uma abrangente ‘Renascença Hindu’ ou ‘renascimento’ do século XIX, um neo-Hinduísmo ou um ‘Hinduísmo semitizado’. As linguagens analíticas usadas para descrever este período frequentemente usam categorizações e dicotomias como "revivalistas", "reformistas", "tradicionalistas" e "ortodoxia" hindus. 

O movimento Arya Samaj’ se traduz como ‘A Sociedade dos Arianos’ ou, no uso contemporâneo, como ‘A Sociedade dos Nobres’. A oscilação no significado do termo arya de indicar um conceito ‘etnológico’ ou ‘racial’ para indicar uma qualidade de nobre virtuosidade é digna de nota. O líder intelectual Dayananda acreditava que os arianos eram os habitantes humanos originais do mundo, vivendo primeiro no Tibete e então, após se separarem dos ignóbeis, não virtuosos, humildes e ignorantes dasyus, mudando-se para a Índia desabitada ou Aryavarta, a melhor nação do mundo, isso era o fermento da nacionalidade indiana. 

Outra figura importante é Bal Gangadhar Tilak (1856–1920), um brâmane Ratnagiri Chitpavan, tornou-se uma figura central no movimento nacional até sua morte em 1920. Ele foi a figura mais importante na facção "extremista" do Congresso Nacional Indiano e o crítico mais vociferante das tendências "moderadas" no Congresso que buscavam graus de acomodação com o governo colonial e que desejavam provocar um processo de reforma social e constitucional gradual, tido por Gandhi como "o fundador da Índia Moderna."

Tilak fundou dois jornais regionais, o Kesari (O Leão) em língua marata e o Mahratta em língua inglesa, que foram os principais porta-vozes da agitação antibritânica no noroeste da Índia. Contra os "moderados" que queriam garantir a cooperação com os britânicos, Tilak também liderou a seção separada do partido "extremista" durante a sessão de dezembro de 1907 do Congresso em Surat (a "cisão de Surat"). Ele acabou sendo preso várias vezes por suas atividades antibritânicas e ganhou o honorífico "lokamanya" ou na tradução o "reverenciado pelo povo". Como um antigo líder do movimento nacional, sua posição na Índia contemporânea é talvez superada apenas pela de Gandhi.

O Aurobindo Ghosh representa outro bom exemplo. Ele não partilhava do ódio pelos britânicos apesar das críticas.  Ghosh, que nasceu em 1872 em uma família profissional bengali de classe média, recebeu treinamento acadêmico na Inglaterra e treinou para fazer o exame de serviço público indiano, no qual foi reprovado devido à sua fraca habilidade. Ele retornou à Índia e foi contratado pelo gaekwad de Baroda no departamento estadual de tributação de terras em 1893. A obra era “indescritivelmente enfadonha” para o jovem Aurobindo, um homem versátil, fluente em inglês, francês, grego e latim, que conhecia alemão, italiano e espanhol e que havia lido obras-primas da literatura europeia em versão original.

Logo após seu retorno à Índia em 1892, Aurobindo perseguiu suas paixões literárias e políticas, escrevendo uma série de artigos sobre o Congresso Nacional Indiano. A série intitulada Novas lâmpadas para velhas, publicada no semanário Indu-Prakash de Bombaim entre 1893 e 1894, expressava críticas sistemáticas ao Congresso do ponto de vista nacionalista. 

Os artigos criticavam o elitismo e a moderação dos líderes do Congresso e lançavam-lhes um desafio aberto. Ghosh, que foi absolutamente inspirado pelos revolucionários franceses e irlandeses, que se purificaram com “sangue e fogo”, considerou aqueles como “menos que os homens”. Ele Mostrou antipatia pelas instituições britânicas e enfureceu-se com as limitações legalistas à atividade política indiana, que atribuiu à predominância dos advogados na política. Dessa leva do Congresso Nacional temos Gandhi nascido em 2 de outubro de 1869 em Porbandar, uma pequena cidade em Kathiawad (Saurashtra), um estado principesco no oeste de Gujarat, em uma família da casta Modh Bania que tinha uma longa tradição de serviço aos governantes de Kathiawad, Gandhi é conhecido como o principal líder nacional indiano na liderança da Índia contra o colonialismo e na construção de uma nova Índia.

A figura de Aurobindo Ghosh


Por sua vez, Gandhi assumiu tradições de resistência e sofrimento pessoal, correntes entre os Bania e outras castas de comerciantes e agiotas de Kathiawad. Nessa perspectiva, a resistência e o sofrimento pessoal usados ​​estrategicamente tinham um duplo propósito: quando dirigidos a inquilinos e clientes, serviam para exigir o pagamento de dívidas, e contra os governantes, eram uma medida de protesto contra a injustiça. Às vezes, podiam assumir a forma de autoflagelação, que obrigava moralmente o devedor, amigo ou cliente a cumprir exigências legítimas. Outros eram relativamente mais pacíficos, como o jejum ou o dharna: ficar parado num lugar durante horas e dias até que o sofrimento do indivíduo lesado tivesse impacto sobre o governante ou atraísse a atenção do público.

Gandhi recorreu à “resistência passiva” a partir de 1907, “quando a ação constitucional lhe falhou”. Antes disso, ele havia “contatado altos funcionários” e viajado para a Índia e Inglaterra “em busca de apoio para sua causa” contra a discriminação racial contra os indianos. Em 1907, Gandhi também fez tentativas de vida comunitária e fez o voto de "brahmacharya", o celibato, sem consultar sua esposa Kasturba. Estas medidas indicavam uma mudança de perspectiva devido à insatisfação que sentia com o seu estilo de vida “confortável e rico”.

Nesse interim, Gandhi participou da sessão de 1901 do Congresso Nacional Indiano, onde encontrou dois estilos diferentes de liderança  o de Gokhal e o do próprio Tilak, ambos brâmanes maharashtrianos com abordagens políticas muito diferentes. Ele permaneceu no mesmo lugar que Tilak durante a sessão do Congresso e observou Tilak sentar-se na cama e receber multidões com “tolerância majestosa”. “Gandhi ficou impressionado e respeitoso, mas não sucumbiu ao feitiço de Tilak. 

Um dos meios usados por Gandhi  para difundir suas ideias era a chamada de "satyagraha", a notícia ou a informação. O jornal Indian Opinion ajudou-o a aprender o “ofício do jornalismo”; Foi um meio através do qual ele “se esforçou para educar os indianos sobre temas tão diversos como a história europeia e a saúde pública”, e que utilizou para dar conselhos práticos sobre as tácticas da satyagraha.  As opiniões expressas nas colunas da publicação formaram a base do célebre livro de Gandhi, Hind Swaraj ou Indian Home Rule.

A ideia central dele era o do swaraj, com  ligações íntimas com ahimsa (não-violência) e satyagraha (força da alma). O desejo e a insistência (agraha) na satya (verdade) que constitui o eu “destaca a natureza ativa da não-violência”. Para Gandhi, o Hindustão não era um objeto, mas um lugar (sthaan) do povo/nação (praja).

Um dos pontos que Gandhi focava era a acusação de falta de masculinidade, que parecia dever-se em parte à preocupação de outros líderes nacionalistas com a “efeminação” e fraqueza do homem indiano, era diferente na ênfase que dava ao “fracasso moral”. A subjugação da Índia foi o resultado do fracasso moral dos indianos, e não da ganância, do engano ou do poder superior dos britânicos. Os indianos tornaram-se um povo subjugado porque foram “seduzidos pelo brilho da civilização moderna” e a sua subjugação contínua deveu-se à aceitação, por “secções dirigentes dos índios, dos benefícios da civilização”.

Para superar sua condição de súditos, os indianos tiveram que alcançar a “civilização verdadeira/própria”, modo de conduta que aponta ao homem o “caminho do dever”. Além disso, o “cumprimento do dever e a observância da moralidade” “são termos conversíveis”, uma vez que a observância da moralidade implica a conquista do domínio da mente e das paixões. Portanto, a palavra Gujarati equivalente a civilização, afirmou Gandhi, significa “boa conduta”. 

Os significados que Gandhi deu ao swaraj ou autogoverno indiano não estavam de forma alguma relacionados simplesmente com a liberdade do domínio colonial, mas evocavam uma liberdade que só poderia ser alcançada “através do governo ético do eu e da prática rigorosa da autodisciplina”. na busca da verdade”. 

Assim, no cerne da noção moralizada de nação de Gandhi estava a crença de que a Índia só poderia ser livre depois de os seus indivíduos terem sucumbido à busca da verdade e da não-violência (ahimsa), e se terem reformado e aceitado o sarvodaya (serviço altruísta). Só então a satyagraha (não-violência militante), a “arma de força” de Gandhi, seria eficaz como modo de luta. Um verdadeiro satyagrahi tinha que ser puro e saudável de mente e corpo, ter controle total sobre seus sentidos, paixões e “luxúria”, e empreender a busca pela verdade que abriria o caminho para swaraj.

Para concluirmos, a resistência passiva gandhiana era “uma mistura da tradição hindu Vaishnava de ahimsa, não-violência e uma crença no sofrimento em vez da luta para superar um oponente.  No seu livro Satyagraha (1951), Gandhi definiu-a como “insistência na Verdade”, ou “força da Verdade”, e distinguiu-a da sua tradução inglesa, resistência passiva, associada ao movimento sufragista e aos não-sufragistas na Inglaterra. . A resistência passiva era “uma arma dos fracos”; Não excluiu o uso da força física ou da violência para atingir os seus fins. Por outro lado, satyagraha era “uma arma dos mais fortes”, e não admitia “o uso de violência de qualquer forma ou forma” (Gandhi, 1951, p. 6).


    "Mahatma"  ou grande alma Gandhi 


Os continuadores e lideres do Congresso indiano sobe liderança ideologica de Gandhi, foram Chittaranjan Das e Motilal Nehru  sugerindo que em vez de continuar a boicotar as instituições do governo e, em particular, os conselhos, era melhor entrar neles e destruí-los por dentro, dificultando todas as suas ações. A sugestão recebeu apoio imediato de vários membros do Congresso, mas gandhianos robustos como Vallabhbhai Patel ou Sadar Patel e Rajendra Prasad.



O Nacionalismo Sectario: 


O Hindu Mahasabha, formado em 1915 como parte do Congresso, mas com objetivos nacionalistas hindus radicais, emergiu como um forte crítico do Congresso na década de 1920. Mahasabha emergiu do espírito reativo à Liga Muçulmana. A ideia do "swadeshi"  como um conceito que se pairava na proteção étnica e religiosa da grande Índia. A “proteção” a cultura e a religião da Índia, que, segundo eles, eram os hindus. Nesse interim, a grande figura que urge é de Vinayak Damodar Savarkar como líder do Mahasabha na década de 1920, ele deu um novo impulso à organização.

Savarkar iniciou a sua carreira política aos 10 anos de idade, em 1893, atirando pedras numa mesquita de uma aldeia durante os motins do massacre de vacas durante o século XIX. O Savarkar, que chegou à chefia do Mahasabha na década de 1930, forneceu à organização a ideologia do Hindutva, que teria consequências de longo alcance até os dias de hoje. 

No seu livro Hindutva, que escreveu na prisão de Andaman em 1917, Savarkar levantou a ideia de um rashtra hindu, um estado-nação.  Em duas sessões realizadas em 1922 e 1923, o Mahasabha proclamou-se o defensor da comunidade hindu contra as incursões de muçulmanos organizadas pela Liga Muçulmana. Apesar da base limitada do Mahasabha, as suas actividades viciaram ainda mais as relações entre a elite hindu e muçulmana no norte da Índia e limitaram a capacidade do Congresso de negociar com a Liga.

A ideologia contida no Hindutva de Savarkar estimulou atividades em Maharashtra e influenciou indiretamente a fundação do Rashtriya Swayam Sevak Sangh em Nagpur em 1925 uma organização nacionalista paramilitar ao estilo Fascista. 

Seguindo esses Paços, Hedgewar, um associado a outro intelectual que citaremos adiante o Moonje, e ex-seguidor de Tilak, da continuidade ao crescimento dessa vertente. Inspirado pela ideia de um rashtra hindu, Hedgewar argumentou que, porque a “sociedade hindu” habitou o país “desde tempos imemoriais” e era a “sociedade nacional”, e uma vez que o “próprio povo hindu” construiu o “ valores de vida, ideais e cultura” do país, seu caráter como nação era “evidente. Neste contexto, a suspensão da não cooperação antes do início da desobediência civil fez com que o entusiasmo se dissipasse subitamente. Foram feitas perguntas sobre a eficácia da satyagraha e a possibilidade de treinar as “massas” no caminho da não-violência num futuro próximo.


Assim, o conceito de Hindutva proposto por Savarkar diz que o Hindu é composto de nação (rashtra), raça (jati) e civilização (sanskriti) (Savarkar 1969, 101). Embora isso possa parecer um empreendimento totalmente secular e cultural (já que o próprio Savarkar era secular. Savarkar introduz a ideia de pitrubhoomi (terra sagrada). O elemento religioso, portanto, não pode ser ignorado nessa concepção de Hindutva. De acordo com a historiadora Tanika Sarkar, o  Hindutva paradoxalmente une “nação com fé e, no mesmo movimento, torna a terra da Índia propriedade, em um sentido literal, apenas dos hindus” .  Embora estes critérios permitam a inclusão dos hindus, siques, jainistas e budistas, outras religiões “não hindus”, como o cristianismo, o islamismo, o judaísmo e o zoroastrismo, só podem satisfazer os dois primeiros porque a Índia não é a sua “terra santa”. 

Seguimos e chegamos na noção irredentista de Akhand Bharat (Índia indivisa) com base na ideia semelhante de Bharatvarsh, mas com mais precisão para incluir Afeganistão, Paquistão, Índia, Bangladesh, Sri Lanka, Nepal, Butão, Tibete, Mianmar e, em alguns casos, Camboja, Tailândia e Indonésia.  Até certo ponto, Akhand Bharat é uma ideia que o RSS  herdou das ruminações de Savarkar, mas também foi afirmada pelo intelectual Hindutva Golwalkar , com base em evocações religiosas, culturais e agora visuais, esse segundo iremos falar sobre ele adiante. 

Na importância da formação inicial do RSS a figura já citada de Balkrishna Shivram Moonje (1872–1948) é bem importante. Moonje era um médico da comunidade brâmane de Maharashtra. Embora ele seja agora celebrado pelo RSS como ‘Dharamveer’ (‘um herói na luta religiosa’), seu papel na formação do RSS foi nitidamente minimizado em favor de Hedgewar. Além de ser um dos associados mais próximos e íntimos de Hedgewar, durante as décadas de 1920 e 1930 Moonje foi, ao contrário de Hedgewar, uma figura nacional claramente reconhecível na Índia por seu papel proeminente em um facção do movimento nacional e em organizações comunais hindus.

De fato, ele é uma das várias fontes de influência que incluem o Hindutva de Savarkar e o trabalho de Bhai Parmanand, Babarao Savarkar e o Hindu Mahasabha de Malaviya, que foram fundamentais para promover o desenvolvimento do incipiente da própria RSS, mas foram em grande parte desautorizados em suas histórias de sua origem e em seu elogio a Hedgewar.

Dr Moonje foi uma importante figura anti-Gandhita nas facções de "cooperação responsiva" dentro do Congresso e, do início ao final da década de 1920, ele foi uma figura-chave no Hindu Mahasabha de Malaviya. Moonje permaneceu dentro do Mahasabha sob Savarkar e, em muitos aspectos, sua promoção prática do militarismo hindu agressivo foi para melhorar o de Savarkar. Moonje não foi apenas um membro dos "Hindu Militarization Boards" do Mahasabha, mas também fundou a (Central Hindu Military Education Society) em Nasik, noroeste de Maharashtra em 1935, seguida pela (Bhonsala Military School) em 1937. Essa última existe hoje como a Bhonsala Military Academy, dedicada a incutir em seus cadetes uma ideologia "brahmin-kshatriya" que celebra "o poder do conhecimento e o conhecimento do poder.

Segundo Marzia Casolari uma estudiosa do fenômeno Hindutva, ela destacou a relação direta, quase mediada, entre a estrutura organizacional e a ideologia do RSS inicial após meados da década de 1920 e o fascismo italiano, em particular os movimentos fascistas de Balilla e Avanguardisti e as academias militares e escolas de treinamento fascistas italianos. Nessa época a Itália fascista já era uma fonte de inspiração para os movimentos nacionalistas hindus na década de 1920 e (com a Alemanha nazista) na década de 1930, especialmente em seu desejo de demonstrar a força hindu organizada e militarizar a nação hindu. Os relatórios britânicos destacaram como, a partir de 1927, Moonje, que tinha a principal responsabilidade de organizar filiais do RSS em Maharashtra e nas províncias centrais, foi inspirado a modelar o RSS nos movimentos fascistas.  


O líder Balkrishna Shivram Moonje


No entanto, foi sob Madhav Sadashiv Golwalkar (1906–73),  que o RSS estendeu o conteúdo ideológico de seu nacionalismo hindu. Golwalkar também era um brâmane Maharashtrian e nasceu perto de Nagpur na Índia.  Golwalkar  argumentou que os hindus deveriam estar ‘em guerra ao mesmo tempo com os britânicos de um lado e os muçulmanos do outro’, os muçulmanos concebidos por ele como ‘estrangeiros’ e ‘inimigos’. Golwalkar rejeitou veementemente ‘a doutrina surpreendente’ de que uma nação compreendia todos os seus cidadãos vivendo dentro de um determinado território.

Ele concebeu isso como uma "traição", "a busca inútil pelo fantasma de fundar um estado "realmente" democrático". Em vez disso, ele contrastou "nação" com "estado", este último identificado como um "pacote aleatório de direitos políticos" (Golwalkar 1944: 3). Dada a considerável importância da ideologia de Golwalkar para o movimento Hindutva contemporâneo, vale a pena considerar suas concepções de "nação" e "estado" em alguns detalhes.

"Nação", para Golwalkar, era uma entidade cultural, enquanto o "estado" era político e, embora se sobrepusessem, eram fundamentalmente distinguíveis, de modo que a forma de estado tinha que ser subsidiária e determinada pelo conceito nacional (Golwalkar 1944: 51). Essa ideia "herderiana" específica (a qualificação sendo que Herder ( filósofo idealista alemão.) A "nação" de Golwalkar, como a de Savarkar, começou com os arianos no "período védico", este último concebido por ele como muito mais antigo do que qualquer outra civilização. No entanto, ele rejeitou a visão (sustentada, por exemplo, por Savarkar) de que os hindus-arianos eram exógenos à Índia, ele dizia:

"Sem dúvida... nós, hindus, temos tido posse indiscutível e ininterrupta desta terra por mais de 8 ou mesmo 10 mil anos antes que a terra fosse invadida por qualquer raça estrangeira" (Golwalkar 1944: 6)

Golwalkar por outro lado se remete aos épicos e aos puranas, lá ele enxerga a mesma imagem expansiva da  pátria indiana. O Afeganistão era o antigo Upaganasthan. Shalya do Mahabharata veio de lá. . . . Até o Irã era originalmente ariano. Seu rei anterior, Reza Shah Pehlavi, era guiado mais por valores arianos do que pelo islamismo como ele mesmo dizia. 


O  guru  M.S Golwalkar


Fontes Consultadas:


Historia de la literatura india antigua, Klaus Mylius. 

Hindu Nationalism Origins, Ideologies and Modern Myths, Chetan Bhatt.

THE GREATER INDIA EXPERIMENT Hindutva and the Northeast, ARKOTONG LONGKUMER .

Una Historia da India Moderna, Ishita Barnejee.

La Anarquia, Willam Dalrymple.

BOSE OR GANDHI Who Got India Her Freedom? Maj Gen (Dr) G D Bakshi SM, VSM (Retd).

HIS MAJESTY’S OPPONENT SUBHAS CHANDRA BOSE AND INDIA’S STRUGGLE AGAINST EMPIRE, Sugata Bose.

Historia de la India volume I por ROMILA THAPAR.

Historia de la India II por PERCIVAL SPEAR.

Mahatma Gandhi e sua luta com a Índia,  Joseph Lelyveld.

História das coisas horríveis, Mathew White.

HINDOL SENGUPTA, THE MAN WHO SAVED INDIA Sardar Patel and his Idea of India. 

EXPLORING THE IDEA OF HINDU NATIONALISM , JYOTIRMAYA SHARMA. 

In the Shadow of the Swastika The Relationships Between Indian Radical Nationalism, Italian Fascism and Nazism, Marzia Casolari. 

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