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Nós, os Originários

Derivado do termo latino “originalis”1, o “Original” é aquele que é próprio, “que não provém de outro” - de outra terra, de outra gente, de outra Nação2. O “Originário”, termo que deriva de “Original”, por sua vez, seria aquele que é proveniente ou oriundo de um local3.

Dessa maneira, é possível traçar um paralelo entre os dois verbetes, no que tange ao seu referencial: ora, se originário é aquele que provém de um Algo (sendo este “Algo” seu referencial), e original é o que não provém de outro (seu referencial), conclui-se logicamente que em essência são o mesmo, apenas se prostrando em frentes diferentes, o ser e o não ser. São conceitos complementares.

O originário, nada mais é, então, aquele ser que tem sua origem, seu início em determinado lugar, e que, por força alguma poderia deixar de ser dessa maneira.

Sabemos então o que é o indivíduo originário. Mas, pensando no Brasil, quem seriam esses originários da Pátria Amada? Por bem, concluímos anteriormente que são tanto aqueles que “provém de um algo”, quanto aqueles que “não provém de outro”, ou seja, qualquer um que seja essencialmente filho dessa terra, que dela provém e a ela não poderiam deixar de pertencer.

Qualquer sujeito desse país que não tenha por familiaridade ou que não se sinta pertencente a outro país que não a este, que tenha aqui gerações e gerações passadas, que aqui viveu e se desenvolveu, é tão originário quanto qualquer outro. Do sertanejo ao gaúcho, aquele que tem suas raízes fincadas nesse mesmo solo ambiente, mesmo que tenha resquícios de outras terras em suas rugas ou árvores genealógicas já teria o direito de se dizer originário.

Apontamos isso pois, não se pode tratar desse tema sem comentar a investida interesseira no sequestro do termo. Diversos sites4 de notícias, órgãos governamentais e grupos não governamentais interessados têm cada vez mais se utilizado desse termo em um aspecto muito específico, como: ao se referir aos brasileiros indígenas. Justiça lhes seja feita, os indígenas são de fato parte dos povos originários de maneira inegável, mas não compreendem o todo do conceito. Segundo o Censo de 2022, divulgado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), somente 0,83% da população se autodeclaram indígenas, isto é, identificam-se como pertencentes à “identidade racial”, frisando a “autodeclaração”, que por sua vez amplia a margem de erro, já que não considera a questão genética, senão uma impressão ou noção de pertencimento que não expressa, necessariamente a realidade. (Brasil FUNAI, 2023).

Desses dados, suscitamos o seguinte questionamento: se somente 0,83% da população é originária do Brasil, o que são os outros 99,17? Invasores?

Certamente não é intenção gerar clima de hostilidade entre grupos raciais, mas é preciso pôr em evidência esse tipo de confusão promovida. Como se poderia dizer a qualquer cidadão cujos pais e avós chegaram aqui em tempos que eles sequer conhecem, que bem ou mal fizeram aqui suas vidas, que daqui tiraram seus sustentos e aqui descansaram sob a terra, que ele não é pertencente à essa nação? Que justiça haveria se não dermos a cada um o que lhe é de direito, e a cada cidadão a nacionalidade - e a coparticipação nesse espírito nacional - que lhe cabe?

É evidente então que o conceito sofreu uma tribulação em sua jornada, no meio do caminhar dos tempos. Não há dúvida que a língua é dinâmica e que cada palavra ou conceito com o passar do tempo e seu uso constante adquire novos significados e forma diferentes imagens no imaginário de cada um. Seria impossível condenar quem hoje ao ouvir o termo “originário” projete logo a imagem de um indígena, daquele “bom selvagem” eco-friendly5 que aqui poderia ter vivido em tempos longínquos.

No entanto, aceitar a mudança linguística é muito pouco. Observar o fim e a consequência de cada mudança é o que garante o uso correto e justo da língua, que também é ferramenta e garantia. Assim, aceitar que o Originário é somente o indígena, é destituir do chão que pisa todos aqueles que aqui nasceram e que vivem há tempos e que são tão herdeiros dessa Nação, quanto tantos outros.

Indubitavelmente, o originário é o filho do Brasil. Mas, num exercício de inteligência ousamos propor um conceito que, justo, abranja os que o merecem. Originário é antes aquele que nasceu no solo brasileiro; mais que isso. Originário perfeito é aquele que vê nesta terra, sua própria origem, seu fundamento e seu início, do qual não pode e não quer desprender-se; o originário mais que perfeito, é aquele que, nascido aqui, ao ver-se familiarizado com essa Nação, também nutre por ela forte amor e lhe devota sagrado orgulho. Este Originário é, em síntese, o nacionalista.

Nacionalista não porque tenha um ou outro viés político, mas porque sente - mais do que observa - a si como parte desse país; nacionalista porque nele seus antepassados viveram e trabalharam e porque nele construiu o que conhece por seu lar, no sentido mais radical do termo. E de tudo isso capta a essência do espírito nacional e se entende parte servil desse povo, dessa terra e desses corações.

Não devemos e não podemos permitir, por amor à Nação e a nossa gente, que se tome de nós esse título e esse significado que é nossa herança compartilhada entre tantos compatriotas que comparticipam a alma nacional, a qual repercute entre a massa humana. Se a Nação é essa união de homens que alcança a consciência de um mesmo sistema de valores e normas, que os integra como seres e os diferencia de outros grupos, os Originários são - além do que já foi compreendido - os participantes dessa massa e dessa consciência.

Assim, compatriotas , ser nacionalista também é entender-se “Originário”, e ser Originário de fato é também ser nacionalista, muito além de qualquer noção étnico-racial que se possa ter. Não podemos nós clamarmos pelo bem da Pátria, se não compreendermos que somos estes originários, e que todos os outros tantos originários são também nossos irmãos.

Se nossos traços e nossas cores não acusam a miscigenação que nos forma e nos une, então que ao menos não nos seja furtada a trajetória dos nossos ancestrais.


Referências:


4 O mesmo que sítio, ou mais comumentemente usado, portais.

5 Eco-friendly termo advindo da língua inglesa, traduz-se por “amigável ao meio ambiente.


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