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Mercenários: Empresas militares privadas e suas implicações para os conflitos armados

O conflito atual entre Rússia e Ucrânia colocou em uma evidência ainda maior um tipo de ator que já estava sendo utilizado em conflitos anteriores: a figura dos PMCs (Companhias Militares Privadas), isto é, em poucas palavras, mercenários contratados com o objetivo de agir fora do alcance de qualquer convenção internacional.

É importante ressaltar que esse tipo de instrumento não é exatamente novo. Vem sendo usado pela Rússia em diversas ações de projeção de poder. Seja na Síria, seja na Ucrânia, ainda em 2014. Diversos países possuem suas próprias companhias militares privadas.

A novidade do presente conflito é o retorno da questão colocada desde Maquiavel sobre o uso dos mercenários. Para o famoso pensador da ciência política, o uso de mercenários nunca traria tranquilidade ou segurança, pelo fato de tais tropas serem desunidas, infiéis, corajosas diante dos amigos e covardes perante o inimigo. Numa guerra interestatal entre dois dos maiores países da Europa, o uso dos mercenários ganhou contornos dramáticos nos últimos dias quando foi alegada traição por parte do ministério da defesa russo em relação ao Grupo Wagner. Prigozhin, chefe do Wagner, culpou Sergei Shoigu pelos problemas enfrentados no campo de batalha. Integrantes do grupo marcharam para Moscou, passando antes por cidades como Rostov, sem oposição. Entretanto, o suposto motim durou pouco, com as partes chegando a um acordo em Belarus, mediado por Aleksandr Lukashenko, que comanda o país aliado da Rússia desde 1994.

Em dissertação de mestrado publicada em 2018, o autor Gilles Wauters fala sobre a briga interna existente na Rússia, colocando o GRU e a FSB, de um lado, e o ministro da defesa, de outro. Para as agências de inteligência, é necessário que a operação das PMCs seja controlada por elas, e não pelo ministério da defesa. No primeiro cenário, as companhias poderiam ser operadas por Moscou onde quer que fosse necessário. No segundo, as forças de PMCs seriam parte do exército. Dentro da própria Rússia, as PMCs seriam ilegais até 2018, o que proporcionou vantagens importantes, e preservou segredos sobre as operações militares russas realizadas no exterior. Mas Wauters lembra também as principais desvantagens: aumento das baixas russas (na época, no conflito da Síria).


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