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Lições que Erdogan, MBS e Narendra Modi podem dar ao Brasil no futuro

Na definição de Max Weber, a  Liderança carismática é uma organização ou forma de autoridade, baseada no carisma do líder. Para ele, a autoridade carismática do alemão: "Charismatische Herrschaft" é  baseada na devoção a um específico e excepcional ato de heroísmo, ou a um carácter exemplar de uma pessoa, o que lhe legitima, o líder carismático detém a Política como Vocação , "Disciplina e Carisma". 


Um grande representante dessa categoria sociológica é Recep Tayyip Erdogan,  Quando tinha 15 anos, se juntou a um movimento jovem religioso e ativista chamado MTTB, que desempenhou um papel fundamental na formação de sua ideologia digamos nacional islâmica. Ao ingressar no partido do "Doutor Erbakan" um dos grandes nomes do Nacionalismo Turco moderno, Erdogan fortaleceu suas bases islâmicas e foi influenciado por poemas populistas e escritos de autores como Necip Fazil Kısakürek, Nurettin Topçu e Sezai Karakoç. Suas ambições políticas resultaram em sua ascensão à proeminência nas fileiras do Milli Görüş, um grande movimento nacionalista de massas turco capitaneado pleo Erkaban, a qual falamos a cima,  e com isso ele assumiu posições críticas, incluindo a prefeitura de Istambul.  Erdoğan se tornou consagrado no coração das pessoas como consequência de sua sensibilidade religiosa e sua paixão por servir o povo de Istambul, ambos os quais contribuíram para a percepção de Erdoğan como um líder carismático, no qual apontamos no início do texto. 


Atuando pelo seu famoso partido o AKP ele definiu sua política externa como "problema zero" com os vizinhos. Quando Ahmet Davutoğlu, ex-conselheiro-chefe de Erdoğan, tornou-se ministro das Relações Exteriores em 2009, o AKP começou a implementar sua teoria política como política externa. A Turquia começou a estabelecer boas relações com seus vizinhos com base no início de uma política de "problemas zero" de Davutoğlu, que fazia parte de sua doutrina de profundidade estratégica. A prioridade era estender o interior da Turquia dos Bálcãs ao Oriente Médio. No entanto, atores externos caracterizaram esse desenvolvimento como o início de um governo de estilo islâmico, perseguindo o neo-otomanismo, Neologismo usado para descreve-lo.


Outro ponto importante é a "midiatização", um elemento importante nas ações de Erdogan. Ele começa simplificando o problema para que mesmo as mentes medianas menos instruídas entendam a perspectiva. Em outras palavras, "priorização do conflito", os poemas de Erdoğan, a ênfase no passado otomano e, além disso, sua vitimização desde que (foi preso em 1997 ) desempenham um papel fundamental na influência da sociedade turca porque o povo turco prioriza as vítimas sobre as elites e os poderosos. Além disso, Erdogan prefere “focar em escândalos". Da mesma forma, Erdoğan escolhe os escândalos e ações desonrosas dos candidatos ou partidos da oposição com muito cuidado e, portanto, é capaz de mudar a agenda com uma velocidade volátil. 


Outra figura que se encaixa nisso é Narendra Modi, atual primeiro-ministro indiano, membro do BJP ( Partido do Povo indiano), Modi é figura central para nossa análise.  Modi asssim como o BJP está alinhado com a política de direita e as suas políticas aderem ao movimento Hindutva , uma ideologia nacionalista hindu. É ligado ao Rashtriya Sangh uma organização paramilitar voluntária nacionalista. O preceito fundamental para Modi e seu nacionalismo é estabelecer a “Rashtra Hindu" a nação hindu, conceito formulado pelo histórico político e nacionalista indiano Sadar Patel. Do ponto de vista das relações exteriores Modi da uma aula. O Ministério das Relações Exteriores tem o Subrahmanyam Jaishankar , que é responsável pela execução da política externa da Índia. A política externa de Modi centra-se na melhoria das relações com os países vizinhos do Sul da Ásia, envolvendo a vizinhança alargada do Sudeste Asiático e as principais potências globais. Para isso, Modi se fez presente em visitas oficiais ao Butão , Nepal e Japão nos primeiros 100 dias de seu governo, seguidas de visitas aos Estados Unidos, Mianmar , Austrália e Fiji, etc etc. 


Modi trouxe a tona aquilo que os especialistas chamam de  "Política de Vizinhança em Primeiro Lugar da Índia", um componente central da política externa da Índia , centra-se nas relações pacíficas e no co-desenvolvimento sinérgico colaborativo com os seus vizinhos do sul da Ásia do subcontinente indiano , abrangendo uma gama diversificada de tópicos, como;  economia, tecnologia, investigação, educação, conectividade (transporte digital, de superfície e aéreo, conectividade da rede energética, cadeias logísticas pra citar uns exemplos). o Famoso programa espacial, segurança da defesa, ambiente entram em pauta também. Essas Ações alavancam iniciativas de cooperação regional existentes, como SAARC , SASEC , BBIN, tratados de cooperação formais. Além disso,  ele complementa a política Look East da Índia, focada no Sudeste Asiático , e a política Look West, focada no Oriente Médio . Um ponto central a se comentar é toda atuação de Modi é quando ele decidiu convidar Nawaz Sharif no cerimônia de posse, o lider do Paquistão. Mesmo os seus mais fortes críticos não resistiram em elogiar esta iniciativa. Sharif e Modi tiveram uma discussão cordial em 27 de maio de 2014, dia após a posse de Modi, onde os dois lados concordaram em aguardar com expectativa as negociações em nível de Secretário de Relações Exteriores.


Apesar dos dois lados terem se envolvido num feio tiroteio ao longo da fronteira internacional  com a Índia acusando o Paquistão de violar o acordo de cessar-fogo que prejudicou ainda mais os já instáveis laços bilaterais. No entanto, o Paquistão tentou internacionalizar a questão, procurando a intervenção das Nações Unidas , mas o organismo mundial recusou-se a interferir e pediu às duas partes que resolvessem a disputa. A Índia acusou o Paquistão de não seguir o Acordo de Simla , onde ambos os lados concordaram em resolver a questão da Caxemira apenas por meios bilaterais, Modi conseguiu, e os líderes estarão em Katmandu , no Nepal, para participar na 18ª cimeira da SAARC agendada para 26 e 27 de Novembro, isso é um passo gigante, e que pode mostrar pra gente como atuar nesse tipo de situação. 


Por ultimo, temos Mohammed Bin Salman, ou MBS, nascido como o primeiro filho do príncipe Salman bin Abdulaziz e de sua terceira esposa, Fahda bint Falah Al Hithlain, depois de se formar em direito pela Universidade King Saud , atuou como conselheiro de seu pai, atual Rei Saudita. Posteriormente, foi nomeado ministro da defesa e vice-príncipe herdeiro em 2015. Mohammed foi promovido a príncipe herdeiro em 2017, após a demissão do príncipe herdeiro Muhammad bin Nayef , sobrinho do rei Salman. Atualmente detêm o cargo de primeiro-ministro.


A genialidade de MBS está nas modificações que ele promoveu na  SAGIA ( transformando em ministério) um setor que salvaguarda os investimentos de capital estrangeiro no pais, a SAGIA desempenha um papel fundamental na iniciativa Visão 2030 da Arábia Saudita , que se concentra numa maior abertura económica,  no investimento estrangeiro direto e no desenvolvimento económico. No ano de 2017, a SAGIA lançou o programa Tayseer, que visa melhorar o clima de investimento para empresas privadas estrangeiras no pais. Alem disso, a SAGIA assinou vários acordos importantes de investimento não petrolífero. Na sua terceira conferência anual da Iniciativa de Investimento Futuro (FII), que teve lugar em Outubro de 2019, a SAGIA assinou 23 acordos colectivamente no valor de 15 mil milhões de dólares. alem da inclusão de um acordo de investimento de US$ 700 milhões com a Modular Middle East. 


Não é so isso, Salman também criou o chamado "Conselho Saudita de Assuntos Econômicos e de Desenvolvimento" que é um dos dois subgabinetes do Reino da Arábia Saudita . Foi estabelecido para substituir o Conselho Econômico Supremo e liderado por MBS e também o Conselho de Assuntos Políticos e de Segurança. No primeiro conselho é feito uma reunião em vista de presidir e rever as ações e decisões do Conselho. Após uma sessão inaugural em Fevereiro de 2015, foram realizadas sessões de revisão em Fevereiro de 2016 e 2017: a primeira incluiu resumos feitos pelo Gabinete de Gestão de Projectos (dentro do CEDA) e a segunda contou com resumos do Ministério da Energia, Indústria e Recursos Minerais. bem como o Ministro da Justiça, na melhoria dos resultados das respetivas entidades, para estarem alinhados com a Visão 2030 do reino . O Conselho de Assuntos Económicos e de Desenvolvimento visa estabelecer a governação global, os mecanismos e as medidas necessárias para alcançar a chamada Saud Vision ou a Visão Saudita 2030 . O órgão aborda questões que abrangem todos os assuntos internos sauditas, desde saúde, trabalho, educação e assuntos islâmicos. Já o Conselho de Assuntos Políticos e de Segurança da Arábia Saudita é composto pelo chefe da Inteligência e nove ministros. Todos os membros do Conselho são nomeados por decreto real. Sob o governo de Bin Salman, ele detem um controle ainda maior e mais relevante sobre dois ministerios importantes, maior autonomia e poder de decisão rapida. 


No Ambito internacional,  Salman busca se apromixar da  Rússia aliadas na OPEP , a Arábia Saudita também está a investir na Rússia, o que também leva a melhores relações entre os dois.  Esta relação não mudou desde o conflito de 2022 na Ucrânia , com 500 milhões de dólares a serem investidos na Gazprom , Rosneft e Lukoil depois de o conflito já ter começado, embora os países ocidentais imponham sanções a estas empresas.


As relações entre a Arábia Saudita e a China são boas, uma vez que a China é o maior parceiro comercial da Arábia Saudita e com grandes investimentos, como uma joint venture Aramco de 10 milhões de dólares e 35 outros investimentos no valor de 28 milhões de dólares no total. O facto de a relação da Arábia Saudita com a China ser boa também ficou visível no acordo diplomático que a Arábia Saudita fez com o Irã nas conversações na China. 


Falando em Irã, desde a famigerada revolução iraniana em 1979 , todos sabemos da  rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã pela liderança sobre o mundo islâmico , e depois do Irã ter tentado exportar a revolução para a região, a Arábia Saudita temeu uma revolução. Isso levou a uma rivalidade, mas em 2011 ( durante as revoltas árabes) esta rivalidade tornou-se muito mais difícil à medida que a revolta na região levou os dois a apoiar lados opostos nos conflitos. No ano de 2016, depois de um clérigo xiita , Sheik Nimr al-Nimr, ter sido executado pela Arábia Saudita após manifestações e o ataque à Embaixada Saudita em Teerã por manifestantes, isto levou ao corte dos laços diplomáticos entre os dois. Mas, tudo mudou nesse ano de 2023, um acordo inesperado entre os dois foi assinado após conversações diplomáticas organizadas pela China, nas quais abririam novamente as suas embaixadas em ambos paises. MBS fez este acordo para apoiar a sua Visão 2030 e a relação com o Irã é um obstáculo ao investimento estrangeiro, algo que ele está mudando. 


Referenciais; 


Narendra Modi: a political biography.


Narendra modi the man, the times.


The Modi Effect - Inside Narendra Modi’s Campaign To Transform India


Communication Strategies in Turkey: Erdogan, the AKP and Political Messaging, Taner Dogan.


The New Sultan: Erdogan and the Crisis of Modern Turkey, Soner Cagaptay.



MBS: The Rise to Power of Mohammed bin Salman, por Ben Hubbard. 



Saudi, Inc.: A busca de lucro e poder do Reino da Arábia, Ellen R. Wald



The Coming Economic Implosion of Saudi Arabia, David Cowan.


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