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Geopolítica da Índia: Autonomia Estratégica, Política de Defesa e Infraestrutura Geoeconômica

Atualizado: 10 de ago. de 2023

Segundo Subrahmanyam Jaishankar, atual ministro de relações exteriores da Índia, a política externa do país carrega três grandes fardos do passado. A primeira é a separação entre Índia e Paquistão, realizada no ano de 1947, que reduziu o país tanto demograficamente quanto politicamente, e teve como consequência não intencional um espaço estratégico maior para a China na Ásia. A segunda está ligada ao atraso das reformas econômicas do país, que aconteceram mais de uma década depois das reformas realizadas pela China, o que continua a colocar a Índia em grande desvantagem. A terceira estaria ligada ao exercício prolongado da opção nuclear. Como resultado de tais fardos, para Jaishankar, a Índia precisou lutar para ganhar influência num domínio que poderia ter sido muito mais fácil anteriormente.


A geografia indiana é privilegiada em alguns aspectos, porém mais limitada em outros. Privilegiada em relação às fronteiras marítimas, por ser literalmente uma península, a Índia possui fronteiras terrestres difíceis, tanto geograficamente, com áreas de fronteira ora montanhosas, de pântano e mesmo de deserto, quanto politicamente, já que o país é cercado por dois vizinhos poderosos Conforme a figura, o país encontra-se no centro da tríplice fronteira nuclear, com o rival Paquistão, e com a China. A área da Caxemira, em disputa, levou a conflitos interestatais mais de uma vez, sobretudo com o Paquistão. O primeiro ocorreu logo em 1947-1948, entre Índia e Paquistão, que teve posterior mediação da ONU, retirada de tropas de ambos os lados e propostas de plebiscito. Em 1962, outro conflito foi entre Índia e China, uma guerra em que a fragilidade das forças armadas indianas na região de Aksai Chin foi demonstrada. A região segue ocupada pela China até os dias de hoje. A guerra foi rápida, durando cerca de um mês. Três anos depois, outro breve conflito com o Paquistão, que resultou no Tratado de Tashkent. Em 1971, uma vez mais os dois países entraram em guerra, num conflito que resultou em uma derrota para o Paquistão, e levou à criação de Bangladesh.

É interessante notar que a região é palco da Tríplice Fronteira Nuclear, pois os três Estados gradativamente buscaram autonomia bélica em relação aos países detentores da tecnologia do átomo. A China foi a primeira a conseguir produzir um artefato nuclear, em 1964, seguida pela Índia, em 1974, e Paquistão, em 1998.


Autonomia Estratégica: A Opção Nuclear e a Política de Pesquisa e Desenvolvimento em Defesa

Enquanto a China se tornou um dos Estados reconhecidos internacionalmente como uma das potências nucleares, a Índia e o Paquistão, por terem conseguido produzir seus artefatos após o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, nunca fizeram parte dos países signatários. Pelo lado da Índia, podemos dizer que a pesquisa da energia nuclear começou ainda durante a década de 40, antes mesmo da independência do país, com a criação do Instituto Tata de Pesquisas Fundamentais, em 1945. Três anos mais tarde, o novo governo indiano, já independente, estabeleceu a Comissão Indiana de Energia Atômica. Em 1954, o programa nuclear indiano se moveu numa direção que iria eventualmente levar ao estabelecimento de capacidade bélica nuclear, com a criação das instalações em Trombay, conhecido como o “Los Alamos indiano”. Com o rápido crescimento do programa, no ano seguinte foi iniciada a construção do primeiro reator, chamado Apsara, com assistência britânica. Ainda em 1955, o Canadá forneceu à Índia um poderoso reator de pesquisa. Os EUA, sob a administração Eisenhower e o seu programa “Atoms for Peace”, forneceram 21 toneladas de água pesada para este reator em fevereiro de 1956. O país buscou, ao invés de aceitar combustível nuclear do Canadá para o reator, produzir de maneira nativa o urânio, com a finalidade de ter o controle total da produção do plutônio. O programa teve sucesso no desenvolvimento de técnicas para a produção precisa de materiais de alta pureza demandados pelo reator. Ao mesmo tempo em que o país seria capaz de produzir armas nucleares, o reator também proporcionou condições para pesquisas. O primeiro teste nuclear indiano ocorreu em 1974, com plutônio produzido neste reator, que foi chamado de Cirus (Canada-India-Reactor-United States).

Em 1958, foi fundada a DRDO, Organização de Pesquisa e Desenvolvimento em Defesa, uma agência governamental subordinada ao ministério da defesa indiano. Podemos dizer que ela funciona como uma espécie de DARPA da Índia. Para maiores informações sobre a DARPA, ver os meus artigos anteriores acerca da agência norte-americana. A agência indiana teve seus primeiros passos no desenvolvimento de mísseis terra-ar durante os anos 60, com o chamado Projeto Indigo. Ao longo das décadas posteriores, ela criou e desenvolveu sistemas como eletrônica a bordo de aviões (aviônica), Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT/UAV), sistemas de artilharia, tanques de guerra, veículos blindados, sonares e sistemas de mísseis.


Perspectivas para a Infraestrutura Geoeconômica da Índia


Um desenvolvimento que é muito interessante para a Índia, bem como para parte da Eurásia, é a construção do Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul. Ele é uma rede multi-modal de transporte por barco, ferrovia e rodovia que passa por alguns países da região, Índia, Irã, Azerbaijão e Federação Russa. O objetivo do corredor é aumentar a conexão e as trocas comerciais entre grandes cidades e metrópoles, como Mumbai, Moscou, Teerã, Baku, Bandar, Abbas, Astrakhan, entre outras, bem como a redução dos custos em termos tanto de tempo como também de dinheiro. O corredor é uma alternativa clara em relação à rota comum que poderia ser pelo Canal de Suez. Pesquisadores indianos afirmam que a rota pelo corredor é 30% mais barata e 40% mais curta do que a rota de Suez. Além é claro de funcionar como uma rota fora do alcance de sanções impostas por outras potências, como as que o Irã e a Rússia. O corredor ainda está em desenvolvimento, não estando ainda totalmente operacional. Muitas estradas ainda estão sendo construídas no Irã, por exemplo. Abaixo vemos o mapa das rotas propostas para o corredor e a rota usual de Suez no lado esquerdo:



Fontes:





JAISHANKAR, S. The India Way: Strategies For An Uncertain World. New Delhi: Harper Collins Publishers India, 2020.



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