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FEB - Heróis Esquecidos

Provavelmente, nenhum dos pracinhas que lutou poderia imaginar que o Brasil entraria na guerra, até que as primeiras embarcações nacionais começaram a ser afundadas pelos alemães em 1942. Logo o povo foi para as ruas exigir do governo brasileiro uma atitude e retaliação pelo gesto de agressão. Enquanto isso, o regime totalitário do Estado Novo do presidente Getúlio Vargas hesitava sobre qual lado tomar: se, por um lado, a afinidade entre os regimes o aproximava dos países do Eixo, por outro os norte-americanos assinalavam robustas vantagens em troca do apoio efetivo brasileiro. O resultado de o Brasil ter escolhido os Estados Unidos está na construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), na modernização do exército brasileiro e no envio de tropas ao front.


Entre a declaração de guerra em 22 de agosto de 1942 e a criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) passou-se mais de um ano, e a preparação das tropas iniciou-se somente no princípio de 1944. A demora foi tanta que o povo começou a dizer que era mais fácil uma cobra fumar que o Brasil ir para a guerra. A seleção dos praças foi o primeiro desafio: encontrar milhares de homens adultos, alfabetizados, saudáveis, que preenchessem os requisitos estabelecidos pelos norte-americanos.


A maioria da população era pobre, rural, analfabeta ou pouco instruída, e mal-assistida nos anos de 1940. Não foi fácil e, portanto, os critérios tiveram que ser suavizados. Escolhidos os futuros combatentes, ainda era preciso treiná-los para o que enfrentariam na Europa. Os desfiles nas ruas do Rio de Janeiro e São Paulo serviam para dar uma resposta às cobranças da população e para levantar o moral dos futuros pracinhas que aguardavam a ida a um destino ainda desconhecido.


A viagem dos expedicionários nos navios norte-americanos não foi longa, pois em breve encontraram-se na costa italiana, onde se juntariam a tropas de outros países aliados com a missão de perfurar a poderosa linha de defesa alemã, a Linha Gótica, que impedia o avanço para o norte da Itália. Retomar o território italiano e derrubar Mussolini era uma missão importante na estratégia maior da guerra. Os pracinhas brasileiros tiveram pouca oportunidade de se preparar para o que viriam enfrentar. O resto foi aprendido nos campos de batalha, nas derrotas e nas vitórias que tiveram – a cobra, então, fumou. A participação do Brasil, embora pequena, foi honrosa e merecedora de elogios dos Aliados. Finda a guerra, era hora de voltar para casa.


Passados os tormentos da guerra, uma outra luta aguardava os pracinhas, agora em tempo de paz. A batalha contra o esquecimento, a invisibilidade, o apagamento de uma missão que extrapolava a natureza eminentemente bélica, e que abrigava um sentimento de liberdade, de respeito e de garantia de direitos que um Estado democrático tinha por obrigação oferecer. Dos Estados Unidos e de parte da Europa, sopravam ventos democráticos que pautavam a agenda política interna do país, ora evidenciando dicotomias, ora potencializando alianças. A concepção de democracia, nesse contexto, apresentava-se tão ampla e diversificada quanto os grupos políticos que dela se apropriavam.


A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial enseja memórias de matizes variados que perpassam entre o orgulho pela vitória contra o nazifascismo e a tristeza por uma reintegração difícil que se estendeu para além do pós-guerra. As associações de ex-combatentes e os monumentos que se criaram pelo país, cada um a seu modo, constituíram-se importante apoio para a preservação das lembranças coletivas, reunindo memórias e identidades compartilhadas. A história da FEB materializa-se, assim, nos ritos, monumentos, símbolos, lugares de sociabilidade, num processo de troca de percepções e sentimentos que constroem um mosaico cultural de pertencimento e nacionalismo.

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