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Discursos dissonantes e custo fiscal da política industrial: O caso norte-americano Parte 2

Dando continuidade ao artigo anterior, Wade, citando Michael Lind, autor norte-americano defensor do nacionalismo democrático de seu país, e crítico ferrenho do libertarianismo, afirma que o governo dos Estados Unidos foi o empreendedor mais inovador do século XX.[1]

Lind fundamenta sua análise citando todas as invenções que foram financiadas pelo governo norte-americano, entre elas, a energia nuclear, a internet, o motor a jato, construiu as estradas interestaduais e o seu sistema, criando também um mercado continental baseado nas tecnologias da segunda revolução industrial. Para o autor, poucos investidores capitalistas podem ter em seu currículo o sucesso alcançado pelo “Tio Sam”. Além disso, Lind afirma que os investidores privados tiraram vantagem e venderam tecnologias que foram originalmente desenvolvidas pela versão americana do capitalismo de Estado.[2]

O discurso norte-americano sobre a política industrial, dissonante de todas essas características citadas acima, defende uma “não política” industrial. A defesa unilateral do superávit primário, da atuação das forças do mercado e contra a atuação do Estado parece ter sido apenas para os outros.

Falando sobre o custo fiscal de tais incentivos, podemos dizer que, de 1969 até 1998 os Estados Unidos não tiveram um ano sequer de superávit.[3] A desvinculação do valor do dólar em relação ao ouro por parte de Nixon, em 1971, fez com que cada vez mais a economia mundial ficasse refém dos interesses políticos, militares e estratégicos norte-americanos. Também é importante dizer que, neste período (1969-1998), o governo americano, além de passar por presidentes de diferentes partidos, ora democratas, ora republicanos, teve presidentes como Ronald Reagan, que é lembrado como um dos defensores da não intervenção do governo “no bolso da população”, inclusive por mais de um mandato. Ao mesmo tempo, foi o presidente que acirrou a competição geopolítica da Guerra Fria pós-détente com os soviéticos, aumentando os gastos com defesa, apesar de todo o discurso. É importante lembrar

[1] WADE, Robert H. The Paradox of US Industrial Policy : the Developmental State in Disguise. Geneva: ILO, 396, 2014. [2] WADE, Robert H. The Paradox of US Industrial Policy : the Developmental State in Disguise. Geneva: ILO, 396, 2014. [3] https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi01109818.htm que, conforme Wade, a visão dominante em relação à política industrial seletiva tomou a forma do suporte governamental para a pesquisa “básica” em inúmeros laboratórios militares. Dessa maneira, com o foco em “básico” e “militares”, foram evitadas as questões ideológicas acerca da política industrial, tendo em vista que mesmo os mais ferrenhos defensores das forças do mercado aceitavam que o governo deveria financiar o desenvolvimento de novas armas e sistemas de inteligência. Vemos no quadro abaixo o quanto o gasto com defesa aumentou desde o governo Reagan até os dias de hoje:




Fontes:




WADE, Robert H. The Paradox of US Industrial Policy : the Developmental State in Disguise. Geneva: ILO, 2014.

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