top of page

Dalton, o brasileiro que desvendou uma ogiva termonuclear americana.

Contexto histórico do setor nuclear (Mundo-Brasil):


O aparecimento das armas nucleares durante os tardios desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, inaugurou uma nova perspectiva nas relações internacionais, algo determinante durante toda a Guerra Fria e até os dias de hoje. Assim, as armas nucleares são o maior símbolo de dissuasão existente, podendo não somente simbolizar, mas construir caminhos mais livres de nações na direção de seus legítimos interesses.


Entre as potências nucleares, podemos citar o Brasil, apesar desse não ter total domínio do setor nuclear, afinal o título de potência nuclear plena inclui, obrigatoriamente, armas nucleares e capacidades de lançamento. De qualquer maneira, o Brasil detém tecnologia nacional de enriquecimento de urânio e capacidade de geração de energia a partir de fontes nucleares, tendo sido o primeiro reator inaugurado em 1957 no IPEN.


A história de Dalton: Dalton nasceu em Fortaleza, em 1951. Mais tarde, como jovem adulto, ingressou na UFRJ e graduou-se em Física. Posteriormente, tornou-se mestre em engenharia nuclear e doutor em ciência dos materiais pelo IME. Foi pesquisador do Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e hoje atua no programa de mestrados do IME. Um grande cientista, como o nome já sugere. Durante o doutorado, escreveu sua tese que, futuramente, viria a se tornar o livro "A Física dos Explosivos Nucleares". Na obra, Dalton constrói o caminho teórico desde áreas mais generalistas da Física e da Engenharia(neutrônica, criticalidade, termodinâmica e hidrodinâmica), até a detonação de uma bomba termonuclear, popularmente conhecida como "bomba de hidrogênio", uma arma que tem a fusão nuclear como base. No capítulo 4, aparece a primeira simulação computacional partindo do código R1C1, completamente baseado nas equações da termodinâmica, hidrodinâmica, criticalidade e neutrônica; é a base da fissão. Assim, seguindo a progressão, Dalton analisa e simula as bombas de fissão mais modernas (boosted), descreve os métodos que as tornam mais eficientes e demonstra sua capacidade de miniaturização, algo que vemos hoje nas armas nucleares táticas (capítulo 9). No capítulo 10, as análises e simulações são direcionadas, finalmente, às bombas termonucleares. Nessa etapa, são relatadas as especificidades da fusão nuclear como também suas diferenças em relação à fissão, afinal agora se fala em uma reação auto-sustentada com altíssima concentração de energia. Também, são feitos precisos comentários sobre o arranjo estrutural das ogivas. Ainda durante o capítulo 10, são realizadas simulações tendo como base, inclusive, o explosivo termonuclear W-87, um dos mais modernos no arsenal dos EUA. Os resultados, ao que indicam os desdobramentos da história, foram extremamente precisos. O alarme do governo:


Em 2009, após a publicação da obra, as autoridades americanas tornaram-se cientes do conteúdo e passaram realizar uma absurda pressão na AIEA(Agência Internacional de Energia Atômica) que, juntamente com os diplomatas americanos no Brasil, incluindo o embaixador Clifford Sobel, se desesperava para arrancar algum tipo de satisfação do Itamaraty, até que o ministro da defesa, Nelson Jobim, reivindicou a posição dada ao Itamaraty sobre o caso. De acordo com ele, o intermédio sobre as fiscalizações da AIEA no Brasil seria de sua responsabilidade. Segundo o embaixador americano, Nelson teria ficado indignado ao saber que o Itamaraty conduzia as autoridades americanas e internacionais para uma conversa com Dalton. Dessa forma, o ministro teria impedido qualquer tentativa de contato com o cientista do exército. Em seguida, o Ministério da Defesa elaborou um relatório negando as suspeitas americanas sobre o Brasil - sim, os americanos acreditavam que o Brasil desenvolvia um arsenal nuclear secretamente ou que obtiveram informações de um cientista estadunidense - de modo a declarar que Dalton partiu de dados públicos e completou seu raciocínio através de cálculos. A Embaixada dos EUA alega, de forma quase incriminatória, que Nelson Jobim foi um dos maiores opositores do TNP(Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares). No final das negociações, o governo americano chegou a propor que o livro "A Física dos Explosivos Nucleares" fosse retirado de circulação, porém o comando do exército considerou isso como uma “intromissão indevida da AIEA em atividades acadêmicas de uma instituição subordinada ao Exército Brasileiro”. Considerações finais: O professor Dalton é abertamente favorável ao desenvolvimento do setor aeroespacial e de um arsenal nuclear pelo Brasil como capacidade dissuasória, levando em conta as dimensões, não somente físicas, mas também na relevância internacional, de nosso país. Vale lembrar de suas críticas aos governos que passaram pelo Brasil durante o auge da expansão liberal pós Guerra Fria.

Collor jogando uma pá de cal em poço de teste nuclear no Pará.

Comments


Commenting has been turned off.
bottom of page