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A temática da economia nas eleições brasileiras: discursos, visões e ilusões

Um dos temas que mais entraram em cena nas eleições brasileiras, não apenas no pleito de 2022, mas também nos anteriores, 2018 e 2014, foi a economia e a forma como o Estado se relaciona com ela. De 2014 a 2018, ganharam força os discursos liberais de diminuição do Estado na economia, privatização e necessidade de reformas, estabelecimento de teto de gastos, etc. Em 2014, não tiveram êxito, com Aécio Neves, que saiu derrotado por Dilma Rousseff. Mas em 2018, o discurso levou Jair Bolsonaro ao Planalto.

Independentemente de quem seja o político ou intelectual que o profere, o principal problema com tais discursos é sobretudo quando estes se desenvolvem num país que possui inúmeros problemas de infraestrutura, baixa competitividade de indústria, baixa produtividade e baixa produção de tecnologia nativa. Sem tais ativos, torna-se muito difícil a competição no mercado internacional para auferir os lucros e fazer com que o país possa cada vez mais melhorar as condições de vida da população, isto é, o bem comum. É pouco coerente acreditar que nações como os EUA e a Inglaterra se desenvolveram apenas por conta do livre comércio e da ideologia liberal, esquecendo de todas as suas políticas protecionistas ao longo dos tempos, até os dias de hoje.

No caso do Brasil, é claro que setores como o agro são muito importantes. Mas ao mesmo tempo, o Brasil não pode continuar dependente da importação da tecnologia vinda dos países do norte e da Ásia. É necessário que o país crie condições para a independência tecnológica em diversas áreas, como a de semicondutores, por exemplo. Qualquer pessoa que deseje ser chefe de Estado jamais pode lidar com o Estado como se o principal objetivo fosse diminuir a capacidade do mesmo em alavancar todos os setores do país. Exemplo: Vender refinaria nacional pra comprar gasolina de fora. Outra questão marcante nos últimos quatro anos foi a relação do governo com a burocracia estatal e seus funcionários, de conflito e de questionamento de sua importância para a manutenção das políticas públicas. O governo esqueceu que a burocracia é essencial para qualquer estado-nação. Qualquer país precisa de políticas públicas de longo prazo e uma burocracia profissional que leve para a frente essas políticas de Estado. Um candidato que não entende isso, ou teria muitos problemas para implementar suas políticas, ou teria diversas perdas de capital político e eleitoral, que é possivelmente o que aconteceu.

O maior problema do liberal e do socialista é que ambos têm visões distorcidas da realidade (logo, ilusões). Não é Estado > Mercado nem Mercado > Estado, mas sim Mercado + Estado. Um Estado precisa do mercado e da mesma forma o mercado precisa da atuação do Estado para que possa ter suas falhas corrigidas.

Um país sem capacidade industrial está fadado a viver de exportação de commodities ou outros bens de baixo valor agregado. Da mesma forma um país completamente fechado vai ter carência de certos bens de maior valor agregado e matérias primas que farão falta para o seu desenvolvimento. Torna-se necessário que o Estado faça o investimento nas áreas em que o capital privado não pretende correr o risco.



-Luiz Aguiar, doutorando em História Comparada pela UFRJ, Mestre em História pela UNIRIO, Graduado em Ciências Sociais pela UFRJ e em Psicologia pela UVA.

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