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A ascensão da China e suas lições para o Terceiro Mundo


A ascensão da China é um dos assuntos de maior notoriedade para a primeira metade do século XXI. Com estatísticas impressionantes, o país asiático, em um tempo aparentemente curto, conseguiu aprimorar imensamente quase todos os seus índices: PIB, expectativa de vida, crescimento industrial, segurança, inovação, educação, saúde, forças armadas, pobreza e muitos outros. Mas afinal, seria isso apenas obra da tão mencionada fase de Deng Xiaoping comumente associada ao grande crescimento chinês ao fim do século?


Reformas educacionais e a chegada da República:


Já no final do império, ainda com a Dinastia Qing que governava a China desde o século XVII, ocorreu o chamado Século de Humilhação, quando o país foi massacrado por invasões e abusos estrangeiros, passando pelas Guerras do Ópio, até a expansionismo de um Japão já enquadrado na modernidade. Antes disso, a China, desde sempre muito fechada em si mesma, tal como era o Japão antes da restauração; detinha um enorme sentimento de prepotência baseado principalmente em um ideal de superioridade intelectual e tecnológica - o que de fato pode ter se confirmado em séculos anteriores, especialmente pelos modelos de governança do Império da China. Sendo assim, a “queda do cavalo” aconteceu justamente quando a elite chinesa se viu subjugada por potências ocidentais e os vizinhos japoneses.

A educação chinesa era totalmente baseada em clássicos nacionais do confucionismo. Jovens mais abastados dedicavam grande parte de seu tempo para edificar aquele destino que já era garantido de certa forma, pois a educação de alto nível, tal como importantes cargos, eram comumente direcionados às classes mais elevadas. Entretanto, através dos chamados Exames Imperiais, jovens homens provenientes de classes menos favorecidas poderiam se inserir na alta sociedade, já que, uma vez aprovados, seriam oficialmente membros da burocracia.

Primeira Guerra Sino-Japonesa

Com as grandes derrotas sofridas pela China, a própria classe política reconheceu a necessidade de promover uma reforma educacional, mas que ainda sustentava a mesma perspectiva elitista de outrora. Assim, a educação chinesa, ainda que guiada pelos valores do confucionismo, passou por um processo de abertura para conhecimentos científicos e filosóficos ocidentais, sendo essa estrutura atravessada pelos tempos turbulentos da queda dos Qing através da Revolução de Xinhai, em 1911. Ademais, como o Japão havia obtido enorme êxito nessa absorção de valores ocidentais, no período da República da China, muitas escolas foram inauguradas tendo-se como base o modelo japonês de educação, que lapidava a carga informacional do Ocidente e a direcionava mais suavemente às mentes orientais. Posteriormente, modelos europeus e norte-americanos também ocuparam espaço.

Exército de Libertação Popular

Com o desenrolar das guerras civis, mesmo com a pausa durante a Segunda Guerra Mundial, os comunistas, liderados por Mao e Zhou, ascenderam ao poder e instituíram uma série de reformas estruturais; a educação não passou despercebida. Adotando o modelo soviético, a realidade educacional da China foi uma analogia “achinesada” ao sistema dos irmãos do norte, porém, com a morte de Stalin e os desagrados ideológicos com a URSS, Mao decidiu que aquilo não bastaria. A partir daí houve um breve retorno das bases confucionistas que logo foram abandonadas, pois, de acordo com o PCCh, essa seria uma educação pertencente à burguesia.


"O Exército de Libertação do Povo Chinês é a grande escola do Pensamento de Mao Zedong."

Com a Revolução Cultural impulsionada por Mao, a educação foi altamente ideologizada e voltada para o trabalho, de modo que disciplinas básicas foram substituídas por conteúdos de técnicas e habilidades industriais e militares, entre outras coisas do gênero. Durante todo esse período, até a morte de Mao e Zhou, a educação chinesa sofreu um enorme empobrecimento pela ausência de conteúdos essenciais e tempo reduzido de escolarização. A admissão às universidades foi cessada.

Já durante a gestão de Deng Xiaoping, a progressão dentro do sistema de ensino foi restaurada, tal como disciplinas anteriormente negligenciadas. Apesar disso, as ambições do governo no direcionamento de trabalhadores especializados para a indústria não diminuíram, o que se mostrou através de um enorme incentivo ao ensino técnico que acompanhava a educação compulsória tradicional por uma parcela dos 9 anos que se seguem até terminar aquilo que seria equivalente ao Ensino Médio Brasileiro. A política de Quatro modernizações seguida por Deng teve grande influência nessa configuração, já que o desenvolvimento técnico especializado e industrial deveriam andar juntos. Dessa forma, o cidadão chinês contemporâneo é produto desse último sistema relativamente aberto às influências técnicas internas e externas; também suportado por um intenso e exigente ritmo de estudo.


As Reformas de Deng Xiaoping e a base já estruturada:



Em 1976, Deng Xiaoping subiu ao poder como líder supremo da China. O final da Guerra Fria já dava seus sinais nos anos 80, pois o modelo de produção soviético demonstrava claros indícios de estagnação e defasagem em uma época na qual os incentivos para a inovação tecnológica ganhavam um peso jamais vistos antes; a capacidade industrial de produção massiva, seja de bens de consumo, seja de outros bens envolvidos nos demais serviços, já não bastava por si mesma por maior que tenham sido seus benefícios inclusive dentro da URSS. Sendo assim, as reformas de Deng inauguraram o “socialismo de mercado” como conceito. Em resumo, a China estabeleceu condições excelentes para atrair investimentos estrangeiros, ao passo que não fez com que o Estado renunciasse ao seu dever como motor do desenvolvimento. Entre as Zonas Econômicas Especiais e os GCEE (Grandes Conglomerados Empresariais Estatais), o Estado subordina os meios de produção capitalistas, sendo o responsável por conceder uma direção prevista enquanto preserva seu patrimônio estratégico na maior parte da produção intelectual, industrial e tecnológica.

Apesar da diferença contextual, o ápice do crescimento brasileiro no século XX, que se estendeu dos anos 30 aos anos 80, foi marcado também por um papel ativo do Estado na geração de demandas também para o setor privado. Da mesma forma, o desenvolvimento se deu de maneira planejada, tal como a China realizou todas as suas reformas, de educação até expansão da infraestrutura de transporte logístico e da indústria.


Aprendizados que ficam na história:


É sempre importante lembrar que a China é uma nação milenar, onde muitos modelos, pensamentos e tecnologias surgiram. Também, uma nação cujos membros historicamente passaram por enormes desafios em meio a crises internas (fome, questões sanitárias, instabilidade política etc) e ameaças externas que, por muito tempo, não deram uma trégua sequer. Sendo assim, é importante, não somente para o Brasil, mas para todos os países emergentes, estudar o exemplo chinês de maneira extremamente científica e pragmática, ou seja, nesse sentido não é conveniente a realização de julgamentos rasos carregados de estereótipos; olhe e veja por si mesmo - estude. Ao Brasil, portanto, não é necessário atingir factualmente a mesma experiência histórica da China e de outros estados nacionais, já que podemos absorver, filtrar, aprimorar e, finalmente, aplicar aquilo que deu certo, exatamente como - em analogia - alguns aspectos puderam ser vistos durante o século XX na Terra de Santa Cruz, principalmente de 1930 a 1985.










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